Eu me lembro de quando era pequeno e amava ser seu filho
Muito sorvete, futebol
Achava você o homem mais forte do mundo
8, 12, 16 horas numa fábrica
E buscava tempo pra me levar pra escola
E buscava forças pra nunca faltar nada
Com as próprias mãos construiu duas casas
Com a própria fé me ensinou a criar asas
E fazer o que quisesse
Desenho, música, informática
Desde que não precisasse
Viver o que viveu pra me dar essa chance
Pipa, bicicleta, pião, Corinthians
Doces, revistas, piscina
Traduzia Super Mario World num caderno
Estava ali, mesmo quando restava o Super Nintendo
Se lembra disso?
Fusca vermelho, Honda azul
Grêmio, SESI, Lago Azul
E quando você me disse que o dinheiro não importava, hm?
Ao contrário do Itaú
Pois é, meu velho
Caminhos se tornaram labirintos
E o que nos une é um elo perdido
Que nos fez vender a alma
Pro Deus do crediário e o demônio na garrafa
Um numa caverna, outro numa taverna
Mãos estendidas, bocas entreabertas
Porém, hoje, compreendo os motivos
De cada erro, cada sacrifício
E por mais que o Google me dê tantas respostas
Sinto falta de te fazer perguntas idiotas
Ligar e pedir carona pra casa
Ambos falhamos, mas não importa
Meu melhor amigo na infância
Meu advogado na adolescência
Meu espelho invertido
Me enxergar em seu reflexo
É minha sentença
A porta fechada pra não incomodar
Hoje, se mantém aberta, esperando o que não voltará
Só queria agradecer por tudo, antes do coração parar
Eu queria ter feito mais por você, eu queria ter mais tempo
Enfim
Que o vento esteja sempre a seu favor e o Sol esteja sempre brilhando
Que os ventos do destino o levem para o alto para dançar com as estrelas